Aporias e apostas do representável: vazios e vestígios da memória em Os dias com ele (Maria Clara Escobar, 2013)

Autores/as

  • Fernando Seliprandy Universidade Federal do Paraná (UFPR) Brasil

DOI:

https://doi.org/10.24310/Fotocinema.2020.v0i20.7595

Palabras clave:

documentário, memória, filhos, ditadura, Brasil, negacionismo

Resumen

O irrepresentável é uma matriz teórica recorrente nas análises do documentário subjetivo contemporâneo. Oriunda dos estudos do Holocausto, esta abordagem contém o trauma pessoal e histórico em seu núcleo, fundamentando várias considerações sobre o cinema documental realizado por descendentes de militantes vítimas das ditaduras do Cone Sul. O objetivo aqui é promover uma discussão acerca do representável a partir da análise de Os dias com ele (Maria Clara Escobar, 2013), documentário no qual a filha enfrenta as resistências do pai em relatar as torturas sofridas durante a ditadura brasileira (1964-1985). Os impasses da memória se manifestam com força nesse filme, em diálogos tensos e enquadramentos de um vazio eloquente. Contudo, junto com o reconhecimento das aporias da representação, é possível fazer outras apostas interpretativas. Se os vazios são plenos de significados, os vestígios do passado inscritos nas imagens também merecem atenção. A hipótese é que, no lugar do foco exclusivo nas aporias do irrepresentável, uma interpretação historiográfica dessa obra deve levar em conta, dialeticamente, os vazios e os vestígios da memória. Reivindica-se, assim, uma visada referencial que é não só epistemologicamente possível, mas politicamente urgente face à ofensiva negacionista que ganha cada vez mais espaço no Brasil pós-2018.

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Biografía del autor/a

Fernando Seliprandy, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Doutor e mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Brasil. Atualmente é professor substituto no Departamento de História da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pesquisa as relações entre cinema, memória e história nas representações das ditaduras do Cone Sul. Autor do livro ‘A luta armada no cinema: ficção, documentário, memória’ (São Paulo: Intermeio, 2015), entre outros artigos acadêmicos em revistas nacionais e internacionais. Membro do grupo de pesquisa CNPq ‘História e Audiovisual: circularidades e formas de comunicação’.

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Publicado

2020-01-29

Cómo citar

Seliprandy, F. (2020). Aporias e apostas do representável: vazios e vestígios da memória em Os dias com ele (Maria Clara Escobar, 2013). Fotocinema. Revista Científica De Cine Y Fotografía, (20), 137–164. https://doi.org/10.24310/Fotocinema.2020.v0i20.7595

Número

Sección

Representaciones autobiográficas y construcción de memorias personales