Jesufina, a ‘mula’: História de uma Reportagem sobre o Humano. Ou as Triangulações Imperfeitas do Transatlantismo
Palabras clave:
Jornalismo, reportagem, questões de género, transatlantismo, criminalidade femininaResumen
Através da triangulação transatlântica (África-América- Europa) de uma mulher condenada por tráfico de droga, abordamos o problema da emigração, das questões de género, da criminalidade e do jornalismo. Jesufina estava grávida da terceira filha quando viajou de Cabo Verde para o Brasil, onde se abasteceria com os «pacotes» de cocaína que lhe pagariam para transportar. A «mula», como ficam conhecidas as mulheres que levam e trazem droga em pequenas quantidades, é apanhada no aeroporto. Nunca mais regressará acasa. Nem aos filhos menores que deixou em Cabo Verde. Condenada a cerca de cinco anos de prisão, tem o bebé como reclusa no Estabelecimento Prisional (EP) de Tires, perto de Lisboa. A Cabo Verdiana é apenas uma das cerca de 200 estrangeiras que povoam o sistema de reclusão português. Nas cadeias portuguesas, estas mulheres representam cerca de 18 % das condenadas. A maioria tem filhos, e muitas vivem com
eles na prisão. O tráfico de droga é a principal causa de detenções de mulheres estrangeiras em Portugal. Vêm maioritariamente de países de língua portuguesa como Brasil ou Cabo Verde. Representam o motivo errado para a proximidade que a partilha da mesma língua pode significar. O poeta Rudyard Kipling escreveu: «Todos as pessoas de bem concordam / E todas as pessoas de bem dizem / Todas as pessoas simpáticas, como Nós, São Nós / E todos os Outros são Eles: / Mas se atravessarmos o Mar, / Em vez de… / Podes acabar (pensa nisso) a parecer Nós / Como apenas uma espécie de Eles!». Se qualquer estranho é visto como «Ele», uma estranha que cometeu um crime, é negra, é mulher e está grávida, passa a ter tudo contra ela. Mas o Transatlantismo também se faz destas realidades, com as quais há muito para aprender. Sobre Nós e os Outros. Ou apenas sobre os Outros que também são Nós.
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