TEJO
Aqui e além em Lisboa — quando vamos
Com pressa ou distraídos pelas ruas
Ao virar da esquina de súbito avistamos
Irisado o Tejo:
Então se tornam
Leve o nosso corpo e a alma alada.
Sophia de Mello Breyner Andresen,
(1994) publicado en (2011)
O rio Tejo que aqui vemos no poema de Sophia de Mello Breyner Andresen é o ponto de partida para este texto sobre Lisboa. Nasce em Espanha e atravessa Portugal até ao oceano Atlântico. No final da sua viagem percorre a paisagem lisboeta aparecendo por entre as vielas e as esquinas.
Os turistas chegam e partem como os cacilheiros deixando impressas nas ruas de Lisboa uma multiculturalidade singular. Lisboa transforma-se em lugar de encontro para descobertas, desafios e aventuras. Os seus habitantes, alfacinhas de gema trilham por entre as sete colinas, acompanhados por elétricos que coloreiam as ruas, avenidas, vielas e calçadas. O Tejo novamente insiste em pontuar a capital de azul, e a cidade distingue-se por entre ambientes verdejantes temperados por um clima mediterrânico. A vida cultural é um convite aos viajantes que deambulam acompanhados por Fernando Pessoa, José Saramago ou mesmo Eça de Queiroz. Tendo sido o epicentro dos descobrimentos desde o século XV, a cidade é marco entre passado e presente, entre história e memória. Os seus monumentos imprimem na paisagem vestígios da presença muçulmana e romana. O terramoto de 1755 reescreveu a paisagem e Marquês de Pombal cuja estátua vislumbra a cidade observa os telhados alaranjados tão tradicionais da traça lisboeta. Os candeeiros pontuados por caravelas e corvos iluminam as ruelas e as escadarias permitindo um entardecer acolhedor.
Lá no alto o Castelo de São Jorge controla a cidade permitindo uma vista envolvente desde o Parque das Nações até à Torre de Belém, até ao Mosteiro dos Jerónimos, até ao mais recente Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia. A cidade é calcorreada por turistas que entram e saem das igrejas encontrando refúgio num banco de jardim onde se aprazem com os pastéis de nata.
Ao longe, a ponte embeleza os postais e revela uma travessia para a outra margem, ao encontro do Cristo Rei. Lisboa, cidade luz, luminosa nos seus bairros típicos e tavernas é inspiração para pintores, como Maluda ou para fotógrafos como a Isabel Araújo Branco. Através das suas fotografias, vislumbramos um olhar atento à mundividência que pauta a cidade. Abordamos Lisboa também pelas palavras de Isabel Dâmaso e de Vanda Rosa que nos revelam a tradição iconográfica e literária. Isabel Dâmaso apresenta-nos a figura de Santo António que ocupa um lugar singular no imaginário cultural lisboeta revelando-se num mito histórico-religioso que permanece vivo na memória coletiva nacional. Vanda Rosa fala-nos de Fialho de Almeida, um escritor do século XIX que se enamorou da capital e cujo olhar nos presenteia com os contrastes da cidade.